Como método de encenação a equipe
pretende inspirar-se nas referências de
processos colaborativos abordados pelo
grupo francês Théâtre du Soleil, fundado
em 1964 pela diretora de teatro e cinema
Ariane Mnouchkine.
O trabalho desenvolvido por
Mnouchkine no Soleil parte do trabalho
colaborativo, de forma que todos
integrantes constituem, através de suas
colaborações artísticas, físicas e emocionais, a atmosfera do espetáculo.
Propõe-se que o percurso de construção de cena se dê através de improvisações enquanto método de estudo da forma em busca da teatralidade e da unidade enquanto grupo.
"A colaboração no processo criativo e o trabalho com a improvisação são, pois, pontos importantes no teatro de Mnouchkine: “creio nas improvisações como um caminho para o teatro contemporâneo. Se a gente compartilhasse os segredos da trupe de Brecht, de Shakespeare ou de uma trupe de Kabuki, tenho certeza que descobriríamos que elas improvisaram”21. Dessa maneira, desde a década de 70 do século XX o Théâtre du Soleil começou a investigar processos de criação utilizando a colaboração de todos os integrantes da companhia, tendo em sua base a improvisação, e a utilizar em suas práticas o que hoje conhecemos por processo colaborativo22. A Commedia dell’Arte é também uma referência na busca por um teatro “teatralizado” em que a forma é intensamente explorada, como também o uso de máscaras, o jogo improvisacional e o ritmo como elemento fundamental."
(The Theatre of the Sun - Juliana Riechel)
Tomando os princípios adotados pelo Théâtre du Soleil, o processo de concepção de Tahewa terá como prioridade a autonomia e liberdade criativa das atrizes e atores, no que se refere a todas as partes que compõe a obra teatral como um todo, seja no âmbito autoral, cenográfico, de iluminação e sonoplastia, caracterização ou interpretação.
Pretende-se que o espetáculo desafie o espectador a visitar duas realidades cênicas distintas: O Rio Grande do Sul da Revolução Federalista e o mundo obscuro de Tahewa. Para criar estes espaços é preciso mergulhar nas potencialidades da imaginação e desta forma o lúdico se faz presente desde as inúmeras experimentações até que se materialize artisticamente em obra teatral.
"A imaginação está diretamente relacionada ao improviso, e para Copeau ela também deveria ser estimulada. A improvisação, então, era o caminho para trabalhar o conjunto: corpo, mente e espírito e essa tríade era a base para o seu trabalho com os atores. Nas improvisações propostas por Mnouchkine, a música é elemento essencial, sendo uma ajuda para os atores na geração de estados e ritmo de cena como também o próprio condutor da cena; gera um intercâmbio entre a palavra, a forma e a música. Portanto, há uma pesquisa permanente do grupo sobre alguns princípios: jogo, forma, estado. A busca é constante para que assim o ator adquira “um corpo o mais livre possível, o mais treinado possível, mas também uma imaginação, uma imaginação tão livre e treinada quanto possível”
A história de Ana e sua viagem rumo à Tahewa será retratada nos corpos, nas vozes, nas luzes, nas melodias que narram os contos e que ditam o tom dos acontecimentos. Desta forma, busca-se através da música caminhos que possibilitem a imersão do público na proposta de sonho e fantasia. Os elementos musicais estarão presentes, não só na cena, mas durante o trabalho de criação, auxiliando a construção de uma atmosfera lúdica onde os seres mágicos surgem e o teatro passa a acontecer.
"Nas improvisações propostas por Mnouchkine, a música é elemento essencial, sendo uma ajuda para os atores na geração de estados e ritmo de cena como também o próprio condutor da cena; gera um intercâmbio entre a palavra, a forma e a música. Portanto, há uma pesquisa permanente do grupo sobre alguns princípios: jogo, forma, estado."
"A ingenuidade não tem nada a ver com a bobagem
ou com a ignorância, como querem que vocês
acreditem. A ingenuidade tem a ver simplesmente
com o nascimento, logo a inexperiência e a inocência
do olhar. [...] quando eu falo para vocês desse tesouro
da infância que é a credulidade – um aspecto dessa
ingenuidade – que vocês fariam bem de deixar
musculosa, porque é utensílio principal de vocês."
(PICON-VALLIN, 2011, p.104-105).